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terça-feira, 1 de junho de 2010

RIO PARAÍBA, LAGOAS, MAR E RESTINGA

Foto: Lagoa de Quipari, Mar Grussaí e Porto do Açu. A Revolução Industrial representou a mundialização e a consolidação do capitalismo como sistema dominante no espaço mundial. Com o desenvolvimento do capitalismo, os impactos ambientais passaram a crescer em ritmo acelerado, assumindo uma nova dimensão.
“PATRICK GEDDES, ESCOCÊS, CONSIDERADO O ‘PAI DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL’, JÁ EXPRESSAVA A
SUA PREOCUPAÇÃO COM OS EFEITOS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, INICIADA EM 1779, NA
INGLATERRA, PELO DESENCADEAMENTO DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SUAS
CONSEQUÊNCIAS PARA O AMBIENTE NATURAL”. (DIAS, 2006, p. 76)
Desde o período inicial de ocupação do território brasileiro, as regiões costeiras
foram uma das mais impactadas pela ocupação desordenada, principalmente o ecossistema
conhecido por restinga.
As planícies de restinga formaram-se depois de uma transgressão marinha, a partir
do momento que o mar começou a recuar, possibilitando a deposição de sedimentos junto à linha de costa, formando os cordões arenosos litorâneos recobertos por vegetação de restinga.
A restinga ocupa grandes extensões do litoral, sobre dunas e planícies costeiras.
Refere-se a um tipo de depósito arenoso costeiro, sendo de origem quartenária. Inicia-se junto à praia, com gramíneas e vegetação rasteira, e torna-se gradativamente mais variada e desenvolvida à medida que avança para o interior. A vegetação típica da restinga é composta por cactos, orquídeas, bromélias... Contudo, esta formação encontra-se atualmente muito devastada e ameaçada pelos efeitos nocivos da crescente urbanização, como é o caso da restinga de Quipari.
A área em torno da restinga de Iquipari está sendo loteada, e este loteamento está
muito próximo à restinga. Além disso, na área em torno da restinga há muito lixo e também a presença de muitos bovinos e caprinos que utilizam este espaço para pastar, contribuindo dessa forma, para a aceleração da degradação da área.
Destarte, a urbanização caminha a passos largos, o que poderá ocasionar muitos
impactos ambientais, colocando em risco a própria existência da restinga e da Lagoa de Quipari.
O complexo lagunar Grussaí/Quipari, localiza-se no Norte Fluminense, no município
de São João da Barra, no Estado do Rio de Janeiro, na posição (21º 44’S; 41º02’O). Este santuário ecológico é considerado uma das últimas áreas remanescentes de restinga que se encontram praticamente preservadas no Estado do Rio de Janeiro.
“A LAGUNA DE QUIPARI, SITUADA NO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DA BARRA, RJ, É UM SISTEMA DERIVADO DO BARRAMENTO NATURAL DE UM PEQUENO CURSO D’ÁGUA DE SEGUNDA ORDEM, O RIO IQUIPARI, QUE POR SUA VEZ, É UM SISTEMA RESULTANTE DE CANAIS ABANDONADOS NA REGIÃO DELTAICA DO RIO PARAÍBA DO SUL”. (AMADOR, 1986; SOFFIATI 1995 e 1998 apud BIDEGAIN; BIZERRIL; SOFFIATI; 2002 ).
A rica paisagem do Estado do Rio de Janeiro é formada por planícies aluviais,
tabuleiros, colinas, serras... destacando-se a bela restinga de Quipari, que contrasta ao fundo com a Serra do Mar.
O mapa 1 demonstra mais detalhadamente a localização do Complexo Lagunar
Grussaí/Quipari:
A laguna de Iquipari sofre com as intervenções antrópicas. A abertura irregular da
barra da Laguna de Quipari traz conseqüências como o aumento do teor de salinidade da laguna, além de alterar as espécies do ecossistema. Nesta laguna, encontra-se um tipo de mangue que não é comum naquele local, chamado de mangue branco, pois ele tem muitas pintas brancas e provavelmente se desenvolveu naquele local devido à alta salinidade da laguna. Mas, a barra da laguna também é aberta pelos órgãos ambientais:
“A ABERTURA DA BARRA DA LAGOA DE QUIPARI REALIZADA EM SETEMBRO DE 1996 FOI ACOMPANHADA PELAS INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS RESPONSÁVEIS PELA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL DA REGIÃO E ESTUDADA QUANTO AOS ASPECTOS LIMNOLÓGICOS, FAUNÍSTICOS E FLORÍSTICOS. DURANTE OS DOZE DIAS EM QUE A BARRA PERMANECEU ABERTA, FORAM OBSERVADAS ALTERAÇÕES SIGNIFICATIVAS NAS CARACTERÍSTICAS DA ÁGUA, DEPLEÇÃO COMPLETA NO VOLUME DE ÁGUA NA REGIÃO SUL DA LAGOA E PARCIAL NA REGIÃO MEDIANA GRANDE PERDA DE BIOMASSA VEGETAL, MORTANDADE EXPRESSIVA DE ESPÉCIES DE PEIXES DULCIAQÜÍCOLAS E REDUZINDO INCREMENTO FAUNÍSTICO VIA IMIGRAÇÃO DE PEIXES MARINHOS”. (LIMA; BIZERRIL; CANIÇALI; SUZUKI; ASSUMPÇÃO; (2001)
O processo de abertura da barra da lagoa também ocorre naturalmente. Sazonalmente ela arrebenta o cordão arenoso, ocorrendo uma troca de espécies e de água salgada e doce. A Foto 1 ilustra a barra da laguna de Quipari: Durante a pesquisa de campo, algumas paradas foram realizadas em pontos e áreas estratégicas da restinga, caracterizando as principais características dessas áreas.
Na primeira parada, próxima ao mar, observou-se que o substrato do solo arenoso é
extremamente seco, formado por deposição de areia, avançando sobre o substrato de
origem continental, que raramente se torna úmido. Essas intempéries limitam o
desenvolvimento de certo tipos de plantas e a ocorrência de certos grupos de animais.
Nessa área, praticamente não existe vegetação, a diversidade de espécies é baixíssima.
Encontramos na 1º parada pouquíssima vegetação, só uma espécie de vegetação
rasteira (capim) que raramente é encontrado nesse local. Observamos também, que essa
espécie possuía raízes longas. Como o solo é muito seco, as longas raízes têm como
função buscar água em áreas mais profundas no subsolo.
É importante destacar que essa espécie tem um nível de tolerância muito alto, pois
as condições climáticas dessa área não são nada favoráveis para o seu desenvolvimento. O capim se espalha com facilidade, porém neste ponto as condições não são muito propícias.
Por isso, não encontramos nessa área espécies como bromélias, aroeiras... o solo é muito pobre, e as intempéries são bem agressivas.
Nessa área próxima ao mar, é baixíssima a diversidade de espécies animais e
vegetais por metro quadrado, ou seja, praticamente não existe biodiversidade entre as
espécies. Com isso, observa-se uma zonação no sentido oceano-continente que pode ser
notado, como por exemplo, no aumento do número de espécies e na altura da vegetação
quanto maior for à distância da restinga em relação ao mar.
Na 2º parada, em uma área um pouco mais afastada do mar, impactos recentes
puderam ser observados na área de estudo, como a construção de uma estrada que corta
uma área próxima ao mar, onde já se encontra uma vegetação rasteira e alguns arbustos, ou seja, a estrada corta uma área que pode ser considerada o início da restinga, o que demonstra que essa estrada foi construída sem qualquer tipo de planejamento ambiental, sendo que a referida estrada é feita de um substrato, uma terra vermelha que difere da composição do solo da restinga, que é arenoso. Essa estrada é composta por um substrato estranho para aquela região, o que acaba sendo uma barreira principalmente para o desenvolvimento de algumas espécies vegetais.
As fotos abaixo demonstram diversos fatores que contribuem para a degradação da restinga:
Além disso, pode-se observar na área em torno da restinga, muitos cavalos e caprinos pastando, contribuindo para a aceleração da degradação da área. Observamos também muito lixo nessa área de estudo, o que demonstra que não existe qualquer tipo de conscientização tanto por parte da população quanto pelo poder público. Tanto que nessa área observamos a construção de alguns quiosques, provavelmente irregulares em torno da lagoa de Quipari, o que reafirma a total falta de planejamento ambiental desse santuário ecológico, sendo que: Na 3º parada, já estávamos dentro da restinga. Encontramos uma vegetação arbustiva, com ramos retorcidos, formando moitas, além de encontrarmos muitas espécies cactáceas. Observamos uma rica diversidade em espécies por metro quadrado nessa área, bem diferente da diversidade de espécies por metro quadrado nas primeiras paradas.
Conforme íamos adentrando a restinga, a densidade e a biodiversidade por metro
quadrado só ia aumentando. A vegetação ficou muita densa. Encontramos bromélias,
grandes moitas e também uma vegetação arbórea. A quantidade de matéria orgânica
encontrada era muito maior do que nas 2 primeiras paradas. Verificamos que o local é muito quente e seco. Podemos notar também o microclima na sombra de uma vegetação arbórea (a temperatura era muito mais amena e agradável e o solo era úmido), sendo que surpreendentemente há poucos centímetros o solo chegava a ser frio e gelado.
Fonte: Rafael Corrêa- Gracieli Vargas de Almeida- Fotos- Arturo em 01/06/2010

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